Depois decidi que devia levantar-me e começar o dia. Os dias começados cedo, são sempre mais longos, mais prazenteiros, mais melosos e aconchegantes. Levantei-me, e assim de cabelo ainda despenteado e cara ensonada fui comprar pão quentinho e leite.
E enquanto regressava a casa para fazer o meu pequeno almoço, o sol que despontava no alto, bateu-me na face, e entre o cheiro da canela que se desprendia do pão, a sua quentura na minha barriga, e o seu sabor na minha boca, dos pedaços já debicados no caminho, eu sorri. Estes momentos de simplicidade pura, de verdade honesta, de cumplicidade com a vida são um aperto doce no coração e a força invisível de que preciso para continuar.
Claro que não é tudo um mar de rosas e esta não é a minha formula mágica para que tudo corra bem ( até porque não correu, e hoje já fiz asneiras, mas isso são outros quinhentos), mas é o pavio necessário para que a minha vela continue a arder.
Não tenho sido a pessoa que quero ser. A pessoa que os meus avós com tanto carinho e esforço criaram, a pessoa que os meus pais esperavam que eu fosse, que eu própria tinha decidido ser.. Sou eu. Sempre complicada, sempre insatisfeita, sempre contraditória e sempre inconstante. Sou eu, rabugenta, às vezes sisuda, às vezes chata... mas eu numa tentativa constante de ser melhor. E sei que ás vezes consigo. Às vezes sinto-me capaz. Sinto que sou melhor. Que estou melhor. Há uma engrenagem qualquer dentro de mim que me leva a perdoar de uma forma que nem eu entendo, que me leva a esquecer o que teima em querer magoar, que me leva a tentar o que já todos tomaram como perdido ou perda de tempo.
Sou eu disposta a ceder, a mudar de sentido, a descompreender para poder compreender. Sou eu disposta a perder todo o sentido e toda a lógica para que mais tarde possa ser capaz de compreender tudo com uma visão mais corajosa e mais positiva.
Sou eu disposta a abdicar, para que depois as coisas possam regressar melhores, mais completas, mais tranquilas.
Hoje não há receitas, não as pode haver sempre. Não há receitas para a vida acima de tudo. Não há conselhos que possam resolver tudo, não há preces milagrosas, nem comprimidos de felicidade. A receita para a vida não se faz com medidas rigorosas, nem com passos ordenados. As coisas acontecem e nós temos de ter simplesmente a coragem de não desistir e de continuar a bater, a moldar, a cortar, a amassar, a esperar, a rechear a vida e as circunstâncias que a circunscrevem o melhor que conseguimos.
Se o fizermos certamente que a nossa receita dará certo, podemos queimar-nos em alguns momentos, perder o controlo noutro, ver tudo perdido, mas se tivermos calma e paciência iremos ver que ás vezes basta ter confiança e acrescentar água, dar tempo à fervura e deixar tudo repousar e arrefecer calmamente.
Hoje não vos trago receitas, ingredientes, procedimentos. Este Blog não é apenas sobre isso. É sobre muito mais: é sobre a vida, a minha vida e o modo como a vivo e como a encaro.
Hoje de manhã, tive aquele lampejo de felicidade, ou de alegria. Tive o ponto certo a remendar o meu coração, a nota certa a compor a melodia desafinada da minha mente, tive a inspiração certa para escrever este texto. E só por isso valeu-me acordar assim tão cedo e começar a viver, tentando, recomeçando, esperando.
Foi um momento simples: pão morno com um toque de canela e leite com café. talvez por não esperar mais, algo tão simples resultou.
Talvez se eu for capaz de deixar tudo fluir, a vida me mostre que afinal não é assim tão complicada ou tão difícil como eu às vezes penso que ela é.
Talvez.